terça-feira, 17 de maio de 2011

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Minha provocação só deixou o homem barbudo observar perplexo todos os seus soldados, agora meus, comerem. Então comecei a falar uma língua estranha, acho que latim. O homem veio se arrastando e ajoelhado em frente a mim, enfiei as unhas no seu rosto, o sangue escorria bem devagar por entre meus dedos, seus olhos ficaram negros, mas logo começou a rodar. Seu corpo tremia, as veias se ressaltavam na sua cabeça, cravei minha unha mais forte, até eu escutar a última batida coração e um leve e ultimo farfalhar na respiração falhada. Morto.
Gargalhei, e me virei para um dos homens.
– Leve-o para as minhas sobrinhas elas devem estar com fome...

– Eliza! – ouvi a voz de David vagamente, sentia meus braços sendo chacoalhados. Não tive coragem de abrir os olhos, estava com medo que aquilo fosse verdade.
– Como... eu fiz aquilo? Meu deus eu sou um monstro! – o abracei sem nem olhar, ele hesitou por algum tempo, mas finalmente me abraçou. Eu soluçava no seu peito, ele era tão frio, mas tão quente.
– Eliza o que você viu? – esse sussurrava, e as lagrimas desciam. Relutante sai dos seus braços e lhe contei, passei a mão no rosto –enxugando –, mas no final uma lagrima escapou escorrendo até meus lábios. Ele acariciou meu rosto e limpando a lagrima. Pegou um pano, nós estávamos num quarto, ele pós o pano molhado em meu rosto e sacudiu a cabeça. – Quem é você? – murmurou mais pra ele mesmo do que pra mim.
Eu estava fazendo de tudo para não fechar os olhos. Ele passou o pano molhado e gelado no meu rosto. Estava deitada em uma cama dura, isso era ruim.
– Você não sabe nem a metade das coisas que vai ver e ouvir, das dores que vai sentir. – ele disse, desviando do meu olhar confuso.
– Não tenha pena de mim, acho que esse sempre foi meu destino, é inevitável. Ninguém tem culpa, não fique triste ou se sinta culpado. Apenas aceite, o destino não é algo que se possa controlar. Quando ele nasce, ele prossegue, sem que nada ou ninguém o impeça.  
– É. Você vivia com muitos mortais, eles não conseguem ver.
– Ver? Ver o que?
– Nós. Nossa verdadeira forma. Nunca entendi porque os mortais não conseguem ver.
– Acho que eles conseguem ver, porque sua futilidade é mais importante, então eles ignoram a verdade e fazem os pesadelos contos de fadas, mas na verdade eles só têm medo. Medo de ir além das fronteiras, 

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não tinha ideia de como seria, mas de algo eu tenho certeza seria algo ruim, algo que eu não queria saber. Verdades, muitas vezes, jamais devem ser ditas.
– A coisa que não devem ser ouvidas. – eu sussurrei por mais assustada que tivesse, dei as costas e desci as escadas.
David estava sentado brincando com um dado nas mãos, cheguei mais perto dele, ele me olhou e seus olhos tão azuis estavam mais uma vez negros, como uma noite massacra. Escura, fria e irreversível. Seus olhos retornaram ao azul, e eu me aliviei por um estante, pois eu podia sentir o meu coração batendo frenético como se quisesse sair rasgar meu peito e pular para fora. Cada batida era sincronizada com o dado que caiu das mãos de David.
– De todos os caras normais, eu vou me tornar sua primeira e talvez única paixão. – disse ele dando uma risada sem humor, não se preocupou em pegar o dado, quando ele se levantou o dado já estava na sua mão. – O que ela te disse?
Eu o observei por um instante, ele pegou meus braços e apertou. Seus olhos estavam interrogativos. Franzi minha testa, senti pontadas na cabeça, como marteladas. David me soltou. Coloquei mãos na cabeça e gritei com toda força que tinha, ou pelo menos o que restava. A dor era insuportável, tudo escureceu.

A dor de cabeça havia cessado, abri os olhos, eu estava numa sala, sentada na maior das cadeiras. Como a rainha. Ouvi murmúrios vindos de um dos corredores escuros que se encontravam atrás das enormes mesas a minha frente. Eu olhei e sorri, não parecia que era eu que comandava aquele corpo. O meu corpo.
Entraram ao menos 700 homens com armaduras completas, como se fosse começar uma guerra.
Eu poderia estar só, mas eu escutava os gemidos de medo, os corações acelerados e as espadas erguidas com hesitação.
– Só? Acham que tochas, espadas, escudos, flechas são capazes de me matar? Vamos deixar bem claro aqui que da ultima vez foram 1000 homens, e agora eles estão servindo-se de comida para meus leões. Sinto-me a própria Cleópatra, mandando no Egito. – debochava eu, sentada no trono.  
– Homens! – gritou um homem barbudo.
Ri mais uma vez e estalei os dedos, as mesas se encheram de comida. Fechei a mão em punho, todos andaram até as elas, e começaram a comer.

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Ele pressionou minha mão e me puxou. Subimos mais uma escada e lá em cima eu parei.
– Vem logo!
– Por quê?
– Eu não sei! E se você acha que eu estou feliz por você está envolvida nisso saiba que eu não estou. Agora venha calada.
Tinha mais uma escada, só que de mão, acomodada em cima. Um sótão.
– Deixe-a vir aqui sozinha. – sussurrou uma voz gélida e rouca.
– Eu não quero ir sozinha. – disse baixinho pra David. Ele revirou os olhos, pegou minha mão e me puxou, se aproximou de mim. Nossos rostos tão pertos que eu sentia seu hálito. Respirações irregulares, ele me beijou. Olhei para ele, confusa. Muuuuuito confusa.
– Por quê?
– Suba. – disse ele fazendo uma careta. Será que eu beijo tão mal assim?
 Subi engolindo a saliva, que pareciam pedras rasgando a garganta. Estava tudo escuro.
– Eliiiiiza. – sussurrou a voz prolongando meu nome. Eu abri a boca, mas não saiam palavras. – eu não vou machucar você. – um risco de fósforo. E a coisa ascendeu uma vela vermelha.
Assim eu pude ver certo reflexo do seu rosto, não se podia descrever. Não deu pra ver direito. A coisa estendeu a mão e eu hesitante coloquei a minha por cima, a mão da coisa era enrugada e gelada. Ela apertou minha mão levando-a para perto do seu rosto, um gemido baixo de terror escapuliu da minha boca, ao sentir o vento frio da sua respiração. A mulher, pelo menos eu acho que é, respirou fundo e disse com uma voz rouca:
– Para você, minha querida Eliza, apenas algumas frases permanentes:

“Um futuro macabro espera sua rainha,
Memórias apagadas podem ser mais perigosas do que imagina.
O pior dos demônios pode se disfarçar de amigo.
A ordem estará errada, mas a resposta certa.
E...”

Puxei minha mão, e foi como sair de um choque, um transe. Eu não queria saber o que aconteceria, nós não podíamos ver o futuro, pois ele não deve ser visto. Passei durante anos sabendo meu futuro. Agora eu 


{continua no proximo post, não postei pra ficar certa as paginas. } 

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– Não, você tem que ir embora... Droga, não da mais tempo. – ele estava respirando irregularmente e seus olhos estavam arregalados. Olhei bem pra ele, seus olhos estavam... Estavam pretos!
– O que foi? – perguntei assustada largando seu braço e dando um passo para trás.
– Você terá que vir comigo.
– Não posso vou ter aulas de...
– Não estou pedindo. – ele falou serio, me encolhi. Ele pegou meu braço e me senti como se estivesse entre a vida e a morte. Olhei dentro dos seus olhos que agora estavam tão negros que eu jurava não haver brilho.
– Minha mãe...  
– Escreva um bilhete. – ele pegou um caderninho e uma caneta. Escrevi uma desculpa esfarrapada e ele pegou da minha mão, o papel pegou fogo. Comecei a me afastar e bam! O vidro da janela da sala se espatifou a traz de mim eu gritei, só vi uma sombra enorme, quando estava me virando David disse:
– Não olhe. – David me pegou, tapando minha visão e puf! Não estávamos mais lá.
– Como? É... Por que... Você... hm. – tentei falar algo, mas não achava nada adequado, me virei para o ambiente que estávamos. Franzi o nariz.
Estávamos num barzinho, ele segurou minha mão, e eu lhe agradeci por isso. Os olhares de lá não eram nem um pouco amigáveis, subimos pela escada velha e cheia de poeira que ficava no canto. Lá em cima tinha um homem atrás de uma mesa e uma cadeira virada pra janela, ficando de costas para nós. Só dava para ver a parte de traz da cabeça, e sem se virar ele disse.
– David, o que você faz com essa menina?
– Ela vai fazer parte do futuro. Ela sabia de muitas coisas, acho que Kira apagou a memória verdadeira dela e da senhora Dare. Ela é uma... uma de nós.  
Eu os olhava sem entender nem uma palavra.
– Espero que esteja errado.
– Eu também. – sussurrou ele tão sombriamente que senti todo meu corpo vibrar e cada pelo, de cada parte do meu corpo se eriçar. Mordi os lábios, nervosa e confusa.
– Do que vocês estão falando? – perguntei franzindo a testa e passando a mão pela nuca.                                                                                                                 
– Leve-a para você sabe onde. – disse o homem me ignorando.
– Sim. – ótimo! Ignorada dupla.